quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A arte de criar. O que é criar?


Artigo : O que é criar?
*Por Lu Martinez

Muitas pessoas e principalmente as crianças me perguntam: como você consegue inventar tantas histórias?

Você já escreve tudo de uma vez, ou fica dias em uma mesma história?
Como é o ato de criar? Você imagina os personagens?
Como você passa a “cara” deles para as ilustradoras?
Você inventa histórias baseadas em fatos que acontecem com você?

E outras muitas perguntas, que todos temos curiosidade em saber as respostas, até eu mesma!

Em respeito à vocês, fãs mirins, e em benefício a mim e aos papais interessados, decidi escrever sobre a arte de criar. Vamos pensar juntos?

Bem, antes de tentar responder as perguntas e tentar demonstrar o que é criar, vou filosofar um pouquinho sobre o ato de criar e conseqüentemente falar sobre o novo.

Anterior a qualquer imagem, história ou produtos novos, vem um desenho, um esboço, vários rabiscos e croquis; antes dos desenhos, rabiscos e croquis, vem a criação, mas, o que é criar?

Criar, segundo os dicionários, é “dar existência a”, “gerar”, “produzir”, uma mistura e expressão de todo conhecimento e referencias que temos em nós.

Para se obter um objeto concreto ou uma história pronta, a primeira coisa que acontece com nosso cérebro é imaginar, é viajar, é descobrir o desconhecido, é quebrar paradigmas, é se desprender do real, das nossas próprias experiências.

Mas é também uma combinação de conhecimentos, pré conceitos, experiências, necessidades. É uma confusão, um emaranhado de idéias, de conceitos, conhecimentos, referências e desprendimentos.

Criar é externar tudo isso. É montar na cabeça um quebra-cabeça de: idéias, sentimentos, experiências, conhecimentos, conceitos e referências, sendo que somente é capaz de criar aquele que não teme a transformação, que não teme a novidade e não se apavora com o risco; com o novo, até com o absurdo.

Há uma frase de Fernando Pessoa de diz: “Viver não é necessário. Necessário é criar”.

As poesias de Fernando Pessoa me encantam. Ele conseguiu com que sua alma falasse através delas, nos trazendo o que ele realmente vivia no momento da criação.

Normalmente vivemos das experiências passadas e expectativas do futuro, e fácil podemos transmiti-las para a arte, para a literatura, para os objetos.

Nesta pequena mas profunda frase, Fernando quis nos transmitir que o viver das experiências do passado e da espera de um futuro melhor , é como não viver.

Quando ele diz que necessário é criar, ele quer dizer que é necessário a transformação do momento, do presente. É viver o presente dando total asas à criação, liberdade de criação sem que a mesma esteja presa a conceitos pré-concebidos.

Então, podemos perceber que somente é capaz de criar aquele que não teme a transformação, a novidade, o diferente, o novo e não se apavora com o risco nem tampouco com a opinião alheia.
Um estado de coisas ou uma simples idéia, para o criador, é sempre o ápice ou o inicio da criação, é o desprendimento do passado e do futuro. É transformar o presente em novidade.

O novo possui muitos significados. Novamente o dicionário nos revela que novo pode significar:

1 Que tem pouco tempo de existência; 2 Que é visto pela primeira vez; 3 Que acaba de ser feito ou adquirido e/ou ainda não foi posto em uso; 4 Que tem pouco uso; 5 Moderno, recente; 6 Original; 9 Inexperiente, inexperto; 10 Estranho, desconhecido.

Creio que no sentido deste artigo, o conceito de novo é moderno, recente, original, visto pela primeira vez, o que acaba de ser feito.

Como escritora infantil, tenho ouvido muitos pais indagando o porquê os alunos ainda têm que ler obras de autores que escreveram há cem ou duzentos anos, se grande parte do que ele afirmou já se superou? Ou então porque estudar teoria ainda se a pratica é que transforma o mundo?

Saia justa para uma mãe que também se pergunta às vezes estas questões.
Mas, acredito e ponho em pratica em casa a seguinte opinião:

Haveria a Primeira Revolução Industrial sem a máquina a vapor, ou a estrada de ferro?
Como seria o mundo hoje sem computadores ou pesquisas sobre doenças, epidemias, organismos geneticamente modificados, medicina alternativa, avanços tecnológicos...

Não há como viver o presente, objetivar o futuro, sem conhecer, valorizar e reproduzir os conhecimentos tradicionais.
Sem eles não haveria evolução, avanços, aperfeiçoamento, superação de problemas, ampliação de potencialidades e capacidades, inovações da ciência, das técnicas, das artes e das línguas.

Não podemos perder de vista que o resultado do conhecimento moderno é fruto inquestionável da assimilação e compreensão do conhecimento anteriormente reproduzido. Albert Einstein provavelmente não teria proposto a Teoria da Relatividade se Isaac Newton não houvesse existido.

Isso demonstra que avançamos em direção ao novo, sem perder aquilo que muitas vezes, a duras penas, conseguimos aprender.

Avançar sem perder de vista o que já foi construído.
Constatar no conhecimento e na experiência tradicional uma forma legitima e necessária para continuação do avanço, do novo, da criação.

Acredito que as coisas só acontecem para quem não tem receio de inovar, de enfrentar desafios, encarar o novo, se desprender dos erros, se basear nos acertos passados, aprender e conhecer a tradição, transformar os erros em desafios para acertos.

Sou filha de um bárbaro criador. Um rompedor de obstáculos, desafiador da lei da gravidade, da produção industrial, dos materiais naturais, da família tradicional, das rígidas regras e conceitos, das próprias ou impróprias opiniões alheias, das “taxações” e pré conceitos da sociedade, da miséria do capitalismo. Não haveria essa família de pés no chão, filhos e netos de futuro promissor, se não fosse o guerreiro inovador e corajoso Pai ao lado da sua guerreira mulher Mãe, que apostou e acreditou no potencial desprendimento do ato de criar, em seu significado mais completo.


Para finalizar, respondo:

1) Eu sinto, sento e escrevo.
2) Escrevo direto, sem pensar, as letras vão saindo, sem cessar
3) Tudo está aqui dentro, imagens, palavras combinadas, letras e mais letras...
4) Escrevo para quem quiser ler, não espero ser lida e ser contemplada, espero escrever e passar a mensagem certa para a pessoa, criança certa, aquela que está aberta a aprender.
5) O que vale é a boa escrita, a imaginação de cada um conseguirá construir a imagem de cada personagem, por isso, visualizo cores, formatos, cenários, personagens, mas, do meu jeito, que nunca será igual, melhor ou pior a de ninguém.

Desprendem-se, criem, vivam !

Lu Martinez

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